Pára,
não tecles, não cliques, não faças nada, não penses sequer. Esconde o
telemóvel, o computador ou qualquer outra coisa que tenha acesso à Internet,
mas, por favor, pára, não vás ao Google!
A
razão é simples: o Google, ou qualquer outro motor de pesquisa, não te vai dar
a resposta que queres. Vai, sim, fazer com que esse sintoma, ou qualquer outro,
que estás a experimentar, seja sinónimo de algo tão grave que te vai provocar
uma onda de novos sintomas, maiores ainda que o primeiro. Pior: Sintomas que te
levarão a mais pesquisas e a novas conclusões, num ciclo desenfreado de
doenças, que te "pedem" que comeces já a dizer adeus aos teus
familiares, ao teus amigos e, quem sabe, até aos teus inimigos.
O
Google foi fundado em 1998 e tem um slogan curioso: "don't be evil". A sua missão
declarada consiste em "organizar a informação mundial e torná-la
universalmente acessível e útil". Pois, é aqui que reside o problema de
que te quero falar.
Qualquer
pessoa, em qualquer parte do mundo, pode escrever o que quiser e tu, aí, ou do outro lado
do mundo, podes obter qualquer informação através de uma simples palavra-chave.
Todos
nós já usámos o Google e sabemos o quanto nos pode ajudar, seja para tirar
dúvidas numa discussão de amigos, seja para escrever artigos, ouvir música ou
ver a nossa série preferida que alguém resolveu (de forma pirata,
provavelmente) difundir para o mundo. O problema surge quando os cibernautas
decidem dar uma de pseudo-médicos
(pessimistas por sinal) e responder a questões ou até escrever artigos que têm
tanto de científico como eu tenho de Bruce Lee.
Claro
que há respostas fundamentadas, há artigos baseados em anos de pesquisa e
assinados por profissionais de excelência mas, acredita, não é nesses que te
vais focar (por mais que tentes)! É nos outros, que, sem qualquer base
científica, te levam a acreditar profundamente que a tua esperança média de
vida acabou de cair drasticamente. Isto é, que já só tens alguns meses de vida
para aproveitar o sol, o cheiro a mar, o
sabor da tua comida favorita e os abraços dos que mais amas.
Enquanto
o teu coração acelerar e as tuas mãos tremerem, enquanto sentires o teu corpo a
ficar dormente e dificuldade em respirar, enquanto te sentires com tonturas e
dores de cabeça, não é nos poucos títulos que te sugerem, por exemplo, “ataques
de pânico” ou “ansiedade” que vais acreditar. É, sim, nos outros, naqueles que
– infelizmente – estão em maioria, naqueles em que palpitações são sinónimo de
ataque cardíaco, uma dormência indica claramente esclerose, tonturas, tremores
e arrepios não podem ser algo senão um qualquer tumor ou uma qualquer doença
rara cuja incidência não passa os 2%. E, aqui, surge uma outra questão: mesmo
que a incidência seja de 2%, tu vais-te lembrar das três pessoas de olhos
verdes que conheces e pensar que também só há 2% de probabilidade de alguém ter
olhos verdes no mundo e, claro, vais-te convencer que afinal é bastante
provável teres essa tal doença rara.
Há
então, aqui, dois grandes problemas, afinal de contas: o do Google, que tem informação
a mais e, até quem sabe, maioritariamente incorreta, mas também o nosso. O de
só nos focarmos na tal informação incorreta. Sim, eu sei que não é uma questão
de opção. Sim, eu sei que não conseguimos
que seja de outra maneira. Sim, eu sei que, fisicamente, todos os sintomas coincidem,
um por um. Sim, eu sei que mentalmente não estamos capazes de perceber e
aceitar que esse tal batimento não é um ataque cardíaco, que aquela dormência
não significa necessariamente esclerose ou que as tonturas não serão, muito
provavelmente, causadas por um tumor cerebral. A verdade é que a nossa cabeça
está a ser enganada, constantemente, e o pior é que o senhor Google aparece para
lhe dar razão.
Tens
sintomas que não entendes? Vai ao teu médico, liga à Saúde 24, marca uma
consulta ou vai às urgências. Por muito que te custe, é aí que vais obter as
respostas de que precisas e não nas 500 linhas de pesquisa que ficam a sujar o histórico
do teu computador.
Por
experiência própria, digo-te que a "medicina googliana" me
diagnosticou um tumor no pulmão, um outro cerebral e esclerose múltipla, sem
margem para dúvidas, porque eu tinha os sintomas todos, claro (na minha cabeça,
pois). Comecei logo a pensar em despedir-me do Sol, do cheiro do mar, da minha
comida favorita e dos abraços dos que mais amo.
Por
experiência própria, te acrescento que não havia razão para me despedir de nada
nem de ninguém, há sim para aproveitar mais e mais, todos os dias.
Por
isso, esquece as pesquisas sobre esses sintomas, não acredites em quem escreveu
respostas sem qualquer fundamento científico porque, digamos, desrespeitou o
slogan do Google... E, sobretudo racionaliza! Porque nos queixaríamos tanto da
falta de médicos se a única coisa que precisássemos deles fosse uma prescrição
médica para os comprimidos de combate às doenças que o Google já fez "o
favor" de nos diagnosticar ?
Sim,
eu fui buscar o computador, teclei e pesquisei para escrever este texto (afinal
precisava saber o ano de fundação, o slogan e a missão do Google), mas é precisamente
para isto que ele serve: para utilizarmos informação útil que alguém, num ponto
qualquer do mundo, escreveu e não para diagnosticarmos doenças explicativas dos
nossos sintomas físicos e/ou psicológicos. Para isso, estão cá profissionais competentes
e especializados, que, mesmo não sendo muitos, valem mais do que os milhões de
bytes de informação sem qualquer fundamento que vais encontrar.
E
agora? Já vais parar?
Rita